A imagem da bruxa, ao longo dos séculos, foi moldada por símbolos que originalmente expressavam poder, sabedoria feminina e conexão com a natureza, significados que foram distorcidos por processos históricos e religiosos, especialmente durante a Idade Média e a Inquisição.
A própria figura da bruxa, retratada com “nariz grande” e postura curvada, não é apenas uma caricatura misógina criada para desqualificar mulheres fora dos padrões de beleza e conduta social. Essa imagem carrega camadas simbólicas profundas. Historicamente, o olfato, sentido associado ao nariz, foi considerado um canal de percepção invisível, um modo de discernir o que não se vê. Em diversas tradições, o olfato é visto como ponte entre o mundo material e o espiritual. Entre as antigas curandeiras, “ter bom nariz” significava intuir, sentir e reconhecer aromas e plantas medicinais, compreendendo a natureza por meio dos sentidos, sem depender do conhecimento escrito.
Outros elementos do imaginário da bruxa, tidos como “ocultos” ou “misteriosos”, têm raízes concretas em práticas de cura, agricultura e espiritualidade natural:
O caldeirão, símbolo ancestral da fertilidade e da transformação, representava o útero da terra, espaço de criação e regeneração. Antes de ser associado à feitiçaria obscura, era usado em rituais celtas e pagãos como emblema dos ciclos da vida, morte e renascimento, temas simbólicos e também presentes na alquimia.
A vassoura, outro ícone posteriormente associado ao estereótipo da “bruxa voadora”, era um instrumento doméstico e ritualístico. Utilizada por campesinas para limpar o chão e simbolicamente “varrer” as energias, preparando o espaço para colheitas, partos e celebrações. O gesto de varrer expressava a capacidade feminina de ordenar e restaurar o equilíbrio.
O gato, especialmente o preto, um animal doméstico comum na Europa medieval, mantido por mulheres camponesas, curandeiras e parteiras para controlar pragas, era também símbolo de vigilância, intuição e proteção. A associação do gato preto ao “mal” surgiu no contexto medieval, quando a Igreja passou a condenar práticas populares e naturais que escapavam ao controle clerical. Em 1233, a bula Vox in Rama, um decreto do papa Gregório IX, relacionou o gato preto a cultos demoníacos, um dos primeiros registros dessa crença.
A cor preta, por sua vez, já carregava na simbologia cristã medieval significados ligados à noite, ao oculto e ao pecado, enquanto o branco era associado à pureza, à luz e à presença divina. Essa hierarquia simbólica entre claro e escuro, anterior à ideia moderna de “raça”, ajudou a moldar as representações morais que mais tarde sustentariam o imaginário racial do Ocidente. Séculos depois, pensadores como Frantz Fanon mostraram como esse imaginário moral se transformou em base cultural do racismo e da ideia de supremacia da branquitude.
A lua, presença constante nas imagens das bruxas, representa os ciclos femininos, a sabedoria intuitiva e o ritmo da natureza. A associação entre mulheres e lua, ambas cíclicas e mutáveis, foi vista como ameaça à ordem patriarcal, pois evocava autonomia espiritual e uma conexão direta com as forças naturais, independente da autoridade religiosa.
A cabaça esteve presente em rituais agrários antigos e simboliza o útero e a fertilidade, um recipiente natural de contenção e transformação, associado aos ciclos vitais da natureza. A abóbora e outros frutos de formas semelhantes herdaram, em contextos posteriores, esse mesmo simbolismo de abundância e regeneração, especialmente nas celebrações de colheita e renovação da vida.
A forma oca da cabaça inspirou, desde o Egito Antigo, o desenho de vasos e aparelhos de destilação usados para extrair essências e líquidos purificados. Essa tradição técnica, aperfeiçoada por alquimistas árabes e transmitida à Europa, tornou-se um dos antecedentes históricos da destilação aromática que séculos depois fundamentaria a aromaterapia moderna.

Entre esses símbolos, percebemos que, nas mãos das antigas curandeiras, o diálogo entre o sentir (olfato) e o transformar (alquimia) representava a comunhão entre corpo e natureza. O estereótipo da “bruxa de nariz grande sobre o caldeirão” é, portanto, uma distorção cultural de um arquétipo muito mais profundo: o da mulher que percebe, compreende e transforma o mundo pelos sentidos e pelas ervas.
Nos dias atuais, o termo “bruxa” vem sendo ressignificado por mulheres que buscam reconectar-se com esse legado. As “bruxas da atualidade” são mulheres que ainda lutam pelo seu papel na sociedade, que cultivam autoconhecimento, espiritualidade natural, cura. São guardiãs de um saber ancestral sobre as ervas, os ciclos da natureza e o cuidado com corpo e espírito. Os símbolos outrora usados para condená-las voltam a expressar sabedoria, força e liberdade.
O caldeirão retorna como espaço de criação e o feitiço, como gesto de consciência.
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